José Manuel Moran
Doutor em comunicação pela
universidade de são paulo (usp), josé manuel moran é assessor da faculdade sumaré,
em são paulo e professor aposentado da USP.
JORNAL DO PROFESSOR - De
que maneira os vídeos podem facilitar o processo de ensino e aprendizagem?
JOSÉ MANUEL
MORAN - As linguagens da TV e do vídeo respondem à sensibilidade dos jovens
e da grande maioria da população adulta. São dinâmicas, dirigem-se antes à
afetividade do que à razão. As crianças e os jovens lêem o que pode visualizar,
precisam ver para compreender. Toda a sua fala é mais sensorial-visual do que
racional e abstrata. Lêem nas diversas telas que utilizam: da TV, do DVD, do
celular, do computador, dos games.
Os vídeos facilitam a motivação, o interesse por
assuntos novos. Os vídeos são dinâmicos, contam histórias, mostram e impactam.
Facilitam o caminho para níveis de compreensão mais complexos, mais abstratos,
com menos apoio sensorial como os textos filosóficos, os textos reflexivos.
Os vídeos também são um grande instrumento de
comunicação e de produção. Os alunos podem criar facilmente vídeos a partir do
celular, do computador, das câmaras digitais e divulgá-los imediatamente em
blogs, páginas web, portais de vídeos como o YouTube.
Os computadores e celulares deixaram de ser apenas
ferramentas de recepção. Hoje, são também de produção. Uma criança pode tirar
fotos ou fazer vídeos com um celular e publicá-los na internet. Professores e
alunos podem ter acesso a inúmeros vídeos prontos e assisti-los no momento ou
salvá-los para exibição posterior. Ao mesmo tempo, todos podem editar, produzir
e divulgar novos conteúdos a partir do computador ou do celular. Entramos numa
nova era da mobilidade e da integração das tecnologias, como nunca antes foi possível.
JP - Como os vídeos podem ser utilizados em
sala de aula?
JMM - Os vídeos podem ser utilizados em
todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem. Os principais usos são:
Para motivar, sensibilizar os alunos – É, do meu
ponto de vista, o uso mais importante na escola. Um bom vídeo é
interessantíssimo para introduzir um novo assunto, para despertar a
curiosidade, a motivação para novos temas. Isso facilitará o desejo de pesquisa
nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da matéria.
Para ilustrar, contar, mostrar, tornar próximos
temas complicados – O vídeo pode ajudar a tornar mais próximo um assunto
difícil, a ilustrar um tema abstrato, a visibilizar cenários de lugares,
eventos, distantes do cotidiano. Hoje, é muito mais fácil do que antes
encontrar e visualizar vídeos sobre qualquer assunto importante na internet, em
portais como o YouTube, por exemplo.
Como vídeo-aulas – Alguns vídeos trazem assuntos já
preparados para os alunos, já estão organizados como conteúdos didáticos.
Utilizam técnicas interessantes de manter o interesse, como dramatizações,
depoimentos, cenas de filmes, jogos, tempo para atividades. Podem ser adequados
para que o professor não tenha que explicar determinados assuntos. O professor
age a partir do vídeo, com questionamentos, problematização, discussão,
elaboração de síntese, formas de aplicação no dia-a-dia. Esses vídeos podem ser
disponibilizados no portal da escola e os alunos podem acessá-los fora da sala
de aula também.
Vídeo como produção individual ou coletiva – As
crianças adoram fazer vídeo e a escola precisa incentivar o máximo possível a
produção de pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma
dimensão moderna, lúdica. Moderna, como um meio contemporâneo, novo e que
integra linguagens. Lúdica, pela miniaturização das câmaras, que permite
brincar com a realidade, levá-las junto para qualquer lugar. Filmar é uma das
experiências mais envolventes tanto para as crianças como para os adultos. Os
alunos podem ser incentivados a produzir dentro de uma determinada matéria, ou
dentro de um trabalho interdisciplinar. E também produzir programas
informativos, feitos por eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis dentro da
escola e em horários onde muitas crianças possam assisti-los e também na página
web da escola ou em blogs ou portais da internet.
O vídeo também é importante para documentação,
registro de eventos, de aulas, de estudo do meio, de experiências, de
entrevistas, depoimentos. Isto facilita o trabalho do professor, dos alunos e
da comunidade. Esse material pode ser divulgado, quando conveniente, na
internet.
O vídeo também pode ser útil para avaliação,
principalmente as que mostram situações complexas, estudos de caso, projetos,
sozinho ou com textos relacionados.
JP - Que tipo de atividade deve ser evitada
quando se está trabalhando com vídeos nas escolas? Que tipo de atividade é mais
adequada?
JMM - Algumas formas inadequadas de
utilização do vídeo:
Vídeo-tapa buraco: colocar vídeo quando há um
problema inesperado, como ausência do professor. Usar este expediente
eventualmente pode ser útil, mas se for feito com frequência, desvaloriza o uso
do vídeo e o associa - na cabeça do aluno - a não ter aula.
Vídeo-enrolação: exibir um vídeo sem muita ligação
com a matéria. O aluno percebe que o vídeo é usado como forma de camuflar a
aula. Pode concordar na hora, mas percebe o mau uso.
Vídeo-deslumbramento: O professor que acaba de
descobrir a facilidades de baixar vídeos da Internet costuma empolgar-se e
exibi-los em todas as aulas, esquecendo outras dinâmicas mais pertinentes. O
uso exagerado do vídeo diminui a sua eficácia e empobrece as aulas.
Vídeo-perfeição: Existem professores que questionam
todos os vídeos possíveis porque possuem erros de informação ou estéticos
(qualidade). Os vídeos que apresentam conceitos problemáticos podem ser usados
para uma análise mais aprofundada a partir da sua descoberta,
problematizando-os.
Só exibição: não é satisfatório, didaticamente,
exibir os vídeos sem discuti-los, sem integrá-lo com os assuntos das aulas, sem
rever alguns momentos mais importantes.
Algumas atividades mais adequadas são: introduzir
um assunto, complementar informações; provocar discussões, trabalhos de grupo
para discussão, debates; levantamento de sugestões do grupo, estudo dirigido para
verificação da compreensão e da habilidade de transferir conhecimentos
recebidos para novas situações (projetos); alunos protagonistas, fazendo
trabalhos em vídeo, apresentando-os para a classe e divulgando-os na página web
da escola.
JP - Quais os benefícios que a produção de
vídeos pode trazer para os alunos?
JMM – Maior interesse dos alunos (linguagem
familiar); aulas mais atraentes, pois os vídeos estimulam a participação e as
discussões; alunos desenvolvem mais a criatividade, sua comunicação audiovisual
e a interação com outros colegas e outras escolas; melhor fixação dos assuntos
principais pelos alunos (visão mais concreta sobre eles), já que os vídeos
trazem a realidade para a sala de aula e para a aprendizagem significativa; complementação
das discussões do material impresso.
Mas nem tudo são benefícios. Os professores, apesar
de reconhecer muitas vantagens no uso do vídeo, utilizam-no realmente pouco. A
maior parte só trabalha com o vídeo na sala de aula esporadicamente, não habitualmente.
Há dificuldades materiais, e principalmente, dificuldades em ter o material
adequado para o programa da matéria. A maior parte dos professores não conhece
os vídeos que existem na sua área, quais são bons e, os poucos que eles
conhecem, nem sempre estão disponíveis, por razões econômicas. Percebe-se,
ainda, uma grande desinformação no uso do vídeo, não só tecnicamente, mas
principalmente didaticamente.
JP - Quais dicas o senhor daria para
professores que nunca trabalharam com produção de vídeos antes? O que deve ser
observado mais atentamente pelos professores?
JMM - Que observem e aprendam com seus
alunos. Os mais novos têm uma facilidade no manuseio de muitas telas (da TV, do
celular, do computador, dos videojogos, das câmaras digitais). É importante
aprender com eles e, ao mesmo tempo, fazer algum curso que inclua aspectos
técnicos e pedagógicos. Um dos esquemas básicos de organização da produção de
um vídeo um pouco mais complexo, costuma ter os seguintes passos:
Idéia: a idéia ou o tema principal que move a
produção de um vídeo; Elaboração do roteiro: momento em que a idéia toma forma
propriamente dita. Nesta etapa definem-se os personagens, os estilos de
filmagem, e o que se pretende, de fato, passar para o público com a obra;
Plano de filmagem: nesta parte acontece a
elaboração de uma planilha, onde são especificados todos os locais de filmagem,
bem como suas datas, horários, diálogos, personagens, figurino, cenário, tempo
de cada cena, etc.
Captura das imagens: filmagem propriamente dita;
Decupagem das imagens: nesta etapa, os alunos
assistem ao material gravado, selecionando o que é útil para a finalização da
obra;
Pré-edição: as imagens são transferidas para o
computador e ordenadas em pastas e sub-pastas;
Edição: montagem das imagens no computador,
aplicação de efeitos, inserção de trilha sonora, de legendas ou frases de texto
etc;
Finalização: gravação em mídia DVD,
disponibilização em um portal da escola ou em um portal de vídeos.
JP - É necessário ter uma ilha de edição de
imagens? Quais os equipamentos necessários para produzir um vídeo simples?
JMM - Para começar não é necessário um
equipamento sofisticado. Há programas de edição de imagens, alguns mais simples
e baratos e outros mais sofisticados e caros. O mais simples vem com o Windows
XP ou Vista: é o movie maker. Permite alterar o filme da forma que cada um
quiser, com um clique na opção linha do tempo. Hoje, algumas câmaras digitais
já permitem fazer edição de fotos ou vídeos nelas mesmas.
Tendo idéias e motivação facilmente se encontram as
soluções técnicas mais adequadas para cada situação. O professor pode pedir aos
alunos que encontrem as melhores soluções técnicas de edição.
Com as tecnologias digitais móveis, o avanço na
conexão em redes, a WEB 2.0 com tantos recursos gratuitos colaborativos, há
inúmeras soluções simples de acessar vídeos, de produzir vídeos, de editar
vídeos e de publicar vídeos.
(Entrevista publicada no Portal do Professor do MEC
em 06.03.2009)
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